Campeã em 2023, o GRESVEM Arricha Muchacho levará Caboclo Bernardo para a avenida virtual em 2024.
De autoria de Adalmir Menezes, a escola irá defender o enredo “Caboclo Bernardo – Herói Capixaba Na Barra Do Rio Doce” na disputa do Grupo de Acesso I.
Confira abaixo a sinopse divulgada pela agremiação:
CABOCLO BERNARDO – HERÓI CAPIXABA NA BARRA DO RIO DOCE
Hoje, o samba se apresenta em forma de Auto e traz para a Passarela Virtual a eterna batalha entre o bem e o mal. Eis uma história real de um herói do Brasil, dos tempos do Império, em um cenário de Mata Atlântica onde a natureza é tropical, entre a foz do Watu, o rio Doce, e o sagrado oceano Atlântico.
Lá vivia a minha tribo, do tronco Macro Jê, o povo Borun, que usavam botoques nos lábios, nas orelhas, nas narinas – chamados pelos brancos de Botocudo. Eram fortes, guerreiros, bélicos, resistentes e, será que eram antropofágicos? Temidos por outras tribos, pelos invasores brancos e pela Coroa Imperial, foram declarados inimigos a serem dizimados. E assim foram. De arcos, flechas, bordunas e tacapes, bravamente resistiram às forças militares, contra armas de pólvora e cobertores contaminados com gripe, varíola, sarampo. A dizimação dos Botocudos foi quase total; poucos resistiram.
Eu sou Bernardo José dos Santos. Entre Kaapis (capim, mato fino, folha delgada), nasci ABA (homem, gente, ser humano, índio) na Vila Augusta de Regência de Linhares, da Capitania do Espírito Santo, e o Aba que nasce na Kaapis é CAPIXABA.
“Lará, lará, lará, lará,
lará, lará, larálá, lá, lá, lará, lará…
Se não fossem os heróis
como o Caboclo Bernardo
que salvou tantas vidas
nas ondas do mar sagrado.
A sua fama de herói
se espalhou pelo Brasil,
ele nasceu em Regência
e a sua história daqui saiu.
No dia 7 de setembro de 1887,
uma forte tempestade
no pontal sul, de leste a oeste,
o cruzador se encalhou
na praia do Espírito Santo.
Quem salvou os marinheiros
foi Bernardo José dos Santos.
Lará, lará, lará, lará,
lará, lará, larálá, lá, lá, lará, lará…”
(Hino do Caboclo Bernardo – autor: Seu Miúdo.)
Eu sou o herdeiro Botocudo, forte e exímio pescador que conhece os atalhos do mar. Na tempestade em que o Imperial Cruzador Marinheiro naufragou, atirei-me ao abismo das águas, amarrei uma corda que ligou o barco à praia, e 128 marinheiros foram salvos.
“Salve o Herói!” exclamava o povo de Regência enquanto meu feito corria por Linhares, por Vitória, pela Corte e chegou à Princesa. “Foi o Botocudo o salvador dos marinheiros. Mas como? Ele é dos índios que comiam gente. Vamos chamar de Caboclo Bernardo.”
À Corte fui chamado, poderes, cargos, presentes a Princesa Isabel e a Corte me ofereceram, mas eu nada quis. Recebi uma medalha de ouro e um diploma de herói. “Eu, Princesa Isabel Regente, em nome do Imperador o Sr. D. Pedro II, faço saber aos que esta carta virem, que atendendo à dedicação não comum pela humanidade que mostrou o remador da catraia da Barra do Rio Doce, Bernardo José dos Santos, salvando com risco da própria vida as de muitos indivíduos, por ocasião do naufrágio do ‘Imperial Marinheiro’, ocorrido na madrugada de 7 de setembro, próximo findo, a duas milhas ao sul daquela barra, e querendo dar-lhe uma demonstração de meu imperial agrado por tão importante serviço: hei por bem fazer-lhe mercê de medalha de 1a. classe designada pelo Art. 1 das instruções a que se refere o decreto No. 1579 de 14 de março de 1855. 66o. anos da Independência do Império. (Ass.) Princesa Imperial Regente – Barão de Cotegipe.”
Eê, Princesa… Quero nada não. Da medalha, não sei nem que fim deu. Mais válido foi o Farol. Então, Regência passou a iluminar os marinheiros que por ali haveriam de passar. E fui tocando a vida, muito peixe bom no rio, no mar. Até anta apanhei com as mãos. Outro caboclo, dizia meu amigo com olhos cheios de inveja, pegou a espingarda. Foi matar uns papagaios? Uns macacos? Um índio? Matou o herói, assim como Caim matou Abel. E o povo de Regência de Linhares até hoje se lembra e faz festa no lugar, para os Espíritos, para os Santos. E para o Herói Caboclo Bernardo. Fecham-se as cortinas.