Nzazi é o enredo de estreia da Imperiais da Estação no Carnaval Virtual 2024

Cantando o Nkisi dos trovões, o GRESV Imperiais da Estação apresentou o enredo que irá marcar a sua estreia no Carnaval Virtual.

Na disputa do Grupo de Acesso II, a escola irá desenvolver o enredo “NZAZI”, de autoria de Facundo Ortega.

Confira abaixo a sinopse divulgada pela agremiação:

“NZAZI”

Prefácio

Que rufem os tambores em louvação ao rei dos trovões! Entre labaredas de justiça o Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Imperiais da Estação, contara a historia e os aspectos universais do Nkisi dos trovões, do fogo e da justiça, Tat´etu Nzazi. Iremos por sua origem e a de Loango, seus sincretismos e rituais e os lugares onde mora o seu fogo universal.

Tat´etu Nzazi, o rei dos trovões

N´Zambi já tinha criado a terra e se expandido ao máximo. Com a missão do ajuda-lo no controle da terra, cria os Nkisi, espíritos ligados cada um a uma força da natureza, viveriam no céu e se manteriam no terceiro universo em conexão entre o criador e a criação, os Bakulu. Entre labaredas de justiça incandescente, nascia o nkisi do fogo, dos trovões e da justiça, Tat´etu Nzazi. Ele se estabeleceu em seu novo reino no Duilo, e de caráter irascível, arrojado e justiceiro ostentava seu poder cavalgando sua carruagem de sete cavalos (sete raios) e com seu machado de uma só lamina, o Luazi, disparava energéticos nzajis que bradavam trovões e formavam rochas e pedras pelo choque das descargas elétricas naturais, ao tocarem a terra, a Ixi. Com o poder do fogo universal, Tat´etu Nzazi era um dos mais poderosos nkisi, em seu eterno processo de união entre céu e terra, desde as suas majestosas labaredas, o magma das erupções vulcânicas, até os seus poderosos raios da justiça.

Kiuá Nzazi! Olo Kombelá! Mikariolé Massanganga Nzazi é!

Loango, o fogo na terra

Kalaepi Sakula Lemba Dilê Pembele! Lemba, nkisi da brancura e da paz, resolveu visitar Nzazi para ver se o seu reino prosperou. Na prevenção de incidentes, um Mubiki falou em nome dos oráculos que ordenaram: oferendas a Pambunjila, senhor dos caminhos. Lemba se nega, e os destinos são
escritos. Ele não teve problemas no seu caminho, até chegar a uma encruzilhada. No meio dela, viu um homem fumando e cantarolando, e o perguntou, de onde vem meu bom homem. Ele respondeu: do reino de Nzazi. Lemba foi nesse caminho, mas encontrou uma estrada com muito carvão e depois de muito andar, já com a vestimenta toda suja, resolveu voltar a encruzilhada onde se lavou e trocou as vestes. Ele seguiu por outra estrada, mais como já anoitecia, resolveu descansar numa árvore.

Ao amanhecer avistou um homem que vinha chupando o próprio dedo e Lemba então perguntou: porque age assim bom homem? Que respondeu: estou com fome, pois o fruto que preciso está no alto desta árvore e para não incomoda-lo fiquei andando pelo caminho até que acordasse. Lemba ajudou- o a retirar a fruta, que era dendê, mas uma vez no chão, o homem atirou-lhe a fruta e Lemba ficou encharcado de óleo. Este homem tinha despistado Lemba já duas vezes, era Pambunjila, o senhor das encruzilhadas. Ele foi correndo até o reino de Nzazi e soltou o cavalo preferido do trovão e apontou pra Lemba, que foi capturado e jogado por alguns anos na prisão do palácio de Nzazi.

Maldições, injustiças no reino do justiceiro. Plantas que não crescem, animais que não procriam, reino que não prospera. Um Mubiki se manifestou em nome dos oráculos a Nzazi, tinha uma pessoa aprisionada injustamente no seu reino. O trovão foi até as masmorras e viu Lemba tudo sujo e lastimado. Mandou liberta-lo e um dos seus servos trocar suas vestes, ofereceu um grande banquete no seu palácio em perdão ao ocorrido. Então depois que o reino de Nzazi voltou a prosperar novamente, ordenou a seu servo acompanhar Lemba até sua morada, no caminho Lemba perguntou
ao servo se era feliz servindo Nzazi. Que respondeu: fui feito escravo há muito tempo, minha morada era junto ao rio Lwango, desde este tempo não mais tive escolha. Mas tamanho foi o carinho destinado a Lemba que decidiu que o servo fosse tratado como majestade e suas vestes seriam apenas brancas e como lembrança de seu povo, seria chamado de Loango, e vive até hoje em companhia de Lemba que quando não aguenta caminhar é carregado nas costas por Loango.

Logo oficial do enredo

Kiuá Loango! Singanga é! É Loango! Vulcões, veias abertas nas crostas do planeta, magmas e labaredas, raios vermelhos que chegam aos céus. Loango é o fogo na terra, do centro seus tesouros, os vulcões, se expulsam energias que manifestam a fúria de Nzazi pelas injustiças ocorridas na terra. Majestades e Nkisi. Salve Loango! O rei dos vulcões!

Louvações e rituais ao Raio

Chamas, fogos, ferros, pregos. Bantos rituais pré-históricos aos poderes do fogo, do trovão e do raio, adoração à beleza das fogueiras e chamas, que permitiam a forja, cozinhar e sentir o calor abrangente. Manifestações da natureza, elementos que se fazem nkisi. Com o passar dos tempos e Kitembos, os rituais se fizeram fundamentos; para a condução deles, Nganga Nzazi, curandeiro-sacerdote faz a manifestação espiritual do raio e do fogo. O ritual a Nzazi começa a noite do dia anterior fazendo as comidas para oferendar a ele. Feijão, camarões, quiabo, gengibre, dendê, fubá, acaçá e canjica são os ingredientes fundamentais para as oferendas a Nzazi. E as quatro da manha e sacrificado um animal e cortado ao amanhecer, é oferecido junto com as outras comidas.

As oferendas se posicionam no altar ao frente do Mooyo, o recipiente de Nzazi na terra durante o ritual. É uma escultura feita de madeira das árvores atingidas pelos raios de Nzazi, e é oca, com o fim de albergar ervas, argila e outros materiais que designam o tipo do ritual a ser feito. Dentes, sinos, ossos, contas, cordas. São marcas de oferendas e amuletos utilizados em outros rituais feitos pelo Nganga Nzazi. Seguindo o ritual o sacerdote crava pregos no corpo do Mooyo em chamado a Nzazi, as vibrações dos ferros se introduzindo na madeira trazem a força do fogo e os trovões ao Ixi, e ao se ouvirem trovões de longe, começa a cerimonia. O Nganga Nzazi pede ao Nkisi pelo amarre dos problemas dos seus filhos, que seguindo sua personalidade, são justiceiros e também pede pela cura dos seus enfermos. Esta divindade é justiceira; maldiz aos injustos e atinge suas casas com seus raios, também se manifesta através do jogo dos cocos, cascaras secas que viram no jogar do Nganga Nzazi e guiam e estabelecem o destino dos seus devotos, que clamam ao poder do fogo universal que vem do céu, em raios e trovões majestosos.

Os Senhores do Trovão

Os Bakulu criados por N´Zambi já louvavam os nkisi e tinham rituais e linguagens. Mas de outras terras, estirpes de ambição, sanguessugas de terras e homens, enganaram aos representantes de N´Zambi na terra, os Reis Kongo. Com a sua nova religião mancharam a tradição e espiritualidade banto, que seria vendida pelas próprias mãos de seus governantes. Suas lágrimas se transformaram em vertigens e assombrosos redemoinhos. Os oceanos os levaram para águas americanas e os Bakulu se refizeram em novas terras.

Marés de dendê, barcaças, navios, espumas, diásporas. No novo continente, os Bantos confluíram com estirpes vizinhas, crenças semelhantes e escravizadas, despojados das suas casas, no mesmo continente. Regiam aqueles homens, que impuseram a sua religião sobre as crenças de todas as
etnias africanas, que se esconderam traz as igrejas das suas novas cidades. M´bundus, Nagôs, Bantos e Minas conviveram nas mesmas senzalas, e suas divindades dos trovões, fogos e raios se misturaram, conviveram os Sogbós, Nzazis e Xangôs que se esconderam trás as leis de São Gerónimo, as cachoeiras de São João Batista e os raios de Santa Bárbara. As igrejas foram terreiros, os Oxés, Luazis e Sokpés se fizeram espadas, os mooyos transmutaram em imagens, e os Bakulu já não só eram Jejes, Bantos e Nagôs. Se misturaram em Umbandas e Candomblés pelo Brasil e em Mayombes pelo Caribe. N´Zambi é Olorum e os Nkisi agora são orixás e voduns, as grandes etnias das áfricas se misturaram entre elas e seu próprio opressor, seus santos e divindades agora são africanas, brasileiras e americanas.

O Fogo da vida

Calor, sóis, brasas, quentura, faísca, Fogo! Nzazi é o nkisi capaz de fulminar com o poder incandescente dos raios, os injustos e os inimigos. É a chama que guia o caminho dos conhecedores das leis do universo. Paixões, transmutações, desejos, motivações, forca avassaladora. Faísca dos metabolismos universais movidos pelo calor. Chama da vida, presente nos raios do sol que movem as sociedades e os universos. Presente no transpirar do calor diário. Chama de comunicação, entre a natureza e o humano, entre o humano e o divino, e entre a natureza com se mesma. Na pré-história, Nzazi foi o impulso a forja, foi adorado pelos seus raios por séculos, e rebatizado nas Américas. Chama que arde trazendo justiça, movimento, triunfo e adoração, que fogueia as labaredas que eternamente arderam no coração humano.
A ku menekene usoba Nzazi! Nzazi é!

Glossário

N´Zambi: Deus criador na tradição banto.

Bakulu: Humanos criados por N´Zambi.

Terceiro Universo: Na tradição banto, é a dimensão que fica entre a dimensão dos humanos, a dimensão divinal e o plano dos mortos. Também e chamado de chakra.

Nzaji: Raio

Ixi: Terra na tradição banto.

Duilo: Céu na tradição banto.

Mubiki: conselheiro e curandeiro que consulta os oráculos

Kitembo: Nkisi do tempo

Sogbó: Vodun do fogo, do trovão, do raio e da justiça na tradição Jeje.

Sokpé: Machado de Sogbó. Tem uma só lamina.

Referencias

ADOLFO, Sérgio Paulo: Tradução livre: Tata Kisaba Kiundundulu. Cosmogonie, sorcellerie et magie chez le Bakongo: https://inzotumbansi.org/2009/11/17/mitos-de-nzazi/

A Disputa Entre Nzazi E O Arco-íris: https://inzotumbansi.org/2009/11/17/mitos-de-nzazi/

Tradução libre: Le Combat De Mort Et De Foudre. A Luta Entre A Morte E O Raio (Nzazi). Heusch De Luc. Róis Nés D’um Coeur De Vache. Lês Essais CLXXIII, Gallimard, 1972: https://inzotumbansi.org/2009/11/17/mitos-de-nzazi/

Nganga-Nkisi KAFUJELI, Ndanji Kazenze, Rj: Divindades Bantu: https://inzotumbansi.org/home/tradicao-do-nkisi/documento-nkanda/

Luango-Nzazi: https://es.scribd.com/document/57864187/LUANGONZAZI

Poemas-Frases-Traduzidas-Diversos-Textos: https://es.scribd.com/doc/133471434/Poemas- Frases-Traduzidas-Diversos-Textos

Nzazi, Nzazi Loango, Nzazi Luanda!: http://yarabacy.blogspot.com/2012/06/nzazi-nzazi-loango-nzazi-luanda.html

TIGRO, Leonardo: Mahamba Minkise Congo-Angola: https://es.scribd.com/document/683164837/Mahamba-Minkise-Congo-Angola

SOUZA, Douglas: Candomble de Angola: https://es.scribd.com/document/537650958/01-Candomble-de-Angola

VILLEGA, Simone: Cultura Bantu: https://es.scribd.com/document/408178325/262797007-Cultura-Bantu1-docx

MULOJI: Divindade das Montanhas e do trovão:http://amarracaopesada.blogspot.com/2011/06/divindade-das-montanhas-e-do-trovao.html

Nkisis: https://www.scribd.com/document/401791743/Nkisis

Author: Lucas Guerra

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