República das Ungidas irá apresentar Madagasykara mo Carnaval Virtual 2024

O GRSAESV República das Ungidas apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso I em 2024.

De autoria de Eduardo Tannús e Robert Mori, a escola irá defender no Carnaval Virtual o enredo “Madagasykara”.

Confira abaixo a sinopse divulgada pela agremiação:

Madagasykara

Introdução: a árvore da vida floresceu

Nos primórdios do planeta, quando os continentes ainda estavam se separando uns dos outros, uma frondosa árvore reinava absoluta, com seus troncos resistentes até aos incêndios e sua copa esplendorosa que abrigava toda sorte de animais. Seu nome era Reniala,  a árvore da vida.

Apesar de ser uma fortaleza protetora para todo animal que a procurasse, Reniala não se sentia completa por não poder florescer e frutificar. Por que a árvore da vida não produzia alimentos?

Humildemente,  ela suplicou ao criador Zanahary.

“Oh poderoso Zanahary! Eu amo tanto defender e proteger os animais! Por que não posso alimentá-los com frutos?

Zanahary respondeu: “mas você gerará filhos, árvores como você. Como a natureza sustentaria tantas árvores como você e suas folhagens?”

Reniala prontamente respondeu: meus galhos são fortes e frondosos. Posso proteger os animais com eles.

Assim, Reniala perdeu parte das folhas, enquanto florescia divinamente e gerava frutos insubstituíveis.

Setor 1- ilay paradisa nivoatra mitokana- O paraíso que evoluiu no isolamento

No princípio da separação da Pangeia, um supercontinente, chamado Gondwanna, riquíssimo em minerais e diversidade de ecossistemas,  começou a se separar devido aos mmovimentos tectônicos. América do Sul, África, Antártida,  Austrália, Índia, Oriente Médio e a ilha Madagasykara do mundo decidiram se separar. Milhões de anos deixaram a ilha completamente isolada no oceano índico, cada vez mais distante da costa africana.

Isso foi determinante para o desenvolvimento do maior marsupial e a maior ave da história. O lêmure urso, de 3 m de altura e pesando 350 toneladas, e a Ave elefante, de 3,7m de altura e 700 kg

Um espaço tão inóspito não poderia ter melhor nome: Madagasykara, ou “a Dobra do Mundo”. Derivando pelo oceano indico até ficar milhares de km distante de Moçambique, florestas se multiplicaram e savanas cresceram

Juntamente, plantas e animais tornaram-se totalmente endêmicas. A começar pelas  6 espécies de Baobab e a emblemática Ravenala, ou “árvore do viajante”, conhecida por seus reservatórios de água. Os animais tornaram-se símbolos de lendas que ultrapassaram gerações. Os marsupiais são a prova viva que África e Oceania já foram um mesmo continente. São lêmures, fossas e aiais das mais variadas cores, formas, tamanhos e modos de vida. Dos noturnos aos diurnos, dos coletivos aos solitários. Também é a maior origem dos camaleões, muitos endêmicos da região, do maior ao menor. Uma realidade: após a extinção da megafauna, tornou-se a fauna endêmica de menor estatura em um ecossistema. Incluindo os predadores. Mini-tesouros vivendo na imensidão verde que o homem não teve muita responsabilidade em manejar.

Irresponsáveis ou, talvez, no começo ingênuos. Diretamente da ilha de Bornéu, que um dia foi vizinha de Gondwanna, austronésios decidiram por suas canoas por tsingys ao oeste. E singrando por oceanos quentes, uma terra exuberante dezenas de milhares de quilômetros depois, quem imaginaria um clima TÃO semelhante? Chuvoso, quente, riquíssimo. Era o sonho revelado que os deuses anunciaram!!! E tais canoas aportaram por Antsiranana, na praia esculpida pelas correntes índicas. Era preciso abrir a floresta para fazer um sustento, mas aquela árvore frondosa… parece tanto a árvore da vida! Essa precisa de uma atenção especial, mesmo que deixe de ser uma floresta para se tornar uma avenida em meio a plantações.

Não muito tempo depois, os bantus viram que era possível ir além da imensa costa aonde nasceu a humanidade. Quem diria que seria navegando pelas correntes tão fortes do canal de Moçambique? E saíam as pirogas para desbravar o desconhecido! Mil quilômetros separavam a África da ilha encantada, e de Mahajanga à Toliara, os bantus povoaram a costa oeste em um longo caminho de densas florestas!

Setor 2- Zafimaniry entalhado em Madeira.

As pirogas, tradicionais canoas africanas para navegar rios de relevos acidentados, começaram a ser utilizadas pelos bantus para pescas nas praias do canal de Moçambique. Aventurando-se em época de calmaria, mas equipados para situações de mar revolto. Os bantus atravessaram o canal por centenas de quilômetros.  Quando eles pensavam que estavam em Madagasykara,  na dobra do mundo, colinas muito harmônicas surgem no horizonte do Oceano Turquesa. Madagasykara! É a dobra, o fim do mundo! Um paraíso que evoluiu em pleno isolamento!

As colinas consagradas! O caminho de Rambosalama para guiar os sonhos de um povo negro que festeja embelezando ainda mais a paisagem.

Reniala e seus filhos deixaram o paraíso isolado repleto de frutos que passou a alimentar também os humanos. Alimentar, abrigar, abençoar. Reniala tornou-se sagrada para todos os seres vivos! O homem conheceu Reniala, e Reniala tornou-se cultuada como deusa da fertilidade, a que fornece moradia e alimentação a qualquer ser vivo. E quem eram seus filhos humanos? Sakalavas, pessoas de “pele negra como ébano”, significado da palavra sakalava. Eram exímios guerreiros, adaptados ao meio ambiente em intervenções organizadas, dançarinos, artistas, e por que não inventores? Inventaram meios de sobreviver em um ambiente isolado completamente diferente de Afrika, a terra ancestral. 

Os sakalavas foram se Espalhando pelo litoral e se separando de acordo com o ambiente. Tinham os Betsimisaraka  na costa, excelentes tecelões. Os Bara das terras altas, exímios cesteiros, os Betsileo e os Zafimaniry das florestas da serra, que esculpiam suas vitórias na mais perfeita carpintaria em madeiras de lei. Cestaria, movelaria, utensílios domésticos e de guerra, arquitetura.  Tudo tão perfeito e tão integrado ao meio ambiente, que podemos ver na serra Zafimaniry a primeira cidade planejada, uma mistura de arte e genialidade em pleno mirante da Serra Betsileo.

Os Sakalavas eram extremamente felizes por uma vida tão diferente e farta nesse paraíso. Mas eles não estavam sozinhos.

Logo oficial do enredo

Setor 3: Ny fanjakana Merina be voninahitra- O glorioso reino Merina

Algumas décadas antes, pelo leste da ilha, engenhosas canoas atravessaram o oceano índico.  Vindas do distante arquipélago indonésio, aproveitando-se da calmaria e da temperatura elevada da época, elas atravessaram milhares de quilômetros até encontrar Imerina! O Paraíso! Imerina! Uma gigantesca ilha repleta de recursos e prosperidade! Perfeita para finalmente fundar uma cidade para agradecer aos ancestrais!

E Antsiranana recebe as canoas merinas, abrindo caminho para as colinas de Rambosalama.  Aonde ficar? Logo na entrada, na colina de Ambohimanga. Os Merinas eram de diferentes regiões da Indonésia. Tinham também os Hovas vindos de Java e os Vazimbas vindos de Sumatra. Como unificar? Os Merinas de Bornéu sugeriram a celebração Vodyondry para prosperar a comunidade, casar e unificar. Casar como Manelobe, patriarca Hova, sacramentou com Rafohy, Rainha Vazimba. E os povos da floresta e do rio ampliaram seus domínios. Pelos casamentos, diversos povos de ilhas diferentes se unificaram numa ilha só, e do casamento de Manelobe com Rafohy, nasce Andriamanelo, o filho sagrado. Unificou os Merinas, construiu Hovans em homenagem ao pai, e celebrou com Fandroana a prosperidade da mãe. Água é vida, e o banho é purificação. Fandroana para festejar as vitória, a fartura e o sucesso.

A prosperidade das plantações de arroz, dos pomares de baunilha, das hortas de inhame e das florestas de baobab, o Reino Merina unificou as terras altas. E uma nação totalmente auto-gerida estava pronta para apresentar todos seus encantos ao mundo. Será que valeria a pena?

Setor 3: Peste Parfumée

Andriamanelo deixou seu filho, Ramalo, prosperando ainda mais a produção de arroz, Inhame, baunilha e manga. Ao passo que o Ravali, culto ancestral a Zanahary, se espalhava com os rituais Sampys, o poder do país se desenvolvia, em um Império de etnias completamente diferentes.

Radama I foi o grande mpanjaka que apresentou Madagascar ao mundo. Todos olhavam maravilhados para aquele diferente país com riquezas tão particulares.

Contudo, tamanha riqueza voltaria a despertar o interesse da terra pestilenta, aonde a inveja corrói o caráter de qualquer mandatário.

Inicialmente, Madagascar inspirava medo aos navegantes, Marco Polo em seus relatos mencionou uma ilha imensa, isolada da costa de Moçambique, impedia qualquer aproximação com violentos projéteis de lanças. Dois séculos após Marco Polo passar temeroso pela ilha, Diogo Soares nunca mais foi visto.  Ele foi alvejado por Betsimisarakas que não gostavam de invasores e seu corpo foi jogado ao mar repleto de lanças.

Todavia, com a prosperidade vinda de Radama I, o grande, os olhos europeus cresceram ao tamanho proporcional de seus egos. Não tardou para a França iniciar missões para estabelecer domínio econômico, cultural e religioso da região. Radama estava disposto a negociar, contudo, piratas ingleses simplesmente apareceram na região de Toliara e sequestraram centenas de Sakalavas, Baras e Betsileos para traficá-los como escravizados. Foram mais de 32 mil malagasys aportando em Salvador e não tardando para ajudarem a Povoar os numerosos quilombos baianas. Foram povos que ajudaram a diversificar ainda mais a cultura bantu em terras brasileiras.

Porém, os europeuss não contavam com Ranavalona I sucedendo o marido após sua morte. Ao contrário dele, Ranavalona não estava aberta ao diálogo com o que ela chamava de invasores. Ela denunciou publicamente as missões cristãs que ajudavam os piratas com tráfico de escravizados, e decidiu tomar medidas radicalmente enérgicas.

Ranavalona I proibiu o cristianismo e expulsou todos os estrangeiros do país. Os europeus chamam ela de “a monarca mais sanguinária da história,  déspota, radical, louca e assassina. Já os africanos com unanimidade defendem seu legado de bravura para resistir ferozmente contra todas as pérfidas atividades europeias no país, que visivelmente estavam sedentas de inveja e ganância, sob um hipócrita e mentiroso discurso de “epopeia de coragem e bravura”

Foram quase 3 décadas de embates e ultra-nacionalismo. O que Ranavalona I não esperava era que Radama II e sua esposa Ranavalona II resolveriam entrar em trégua com os franceses e arrendar parte de suas terras para os europeus usarem como quisessem.

Enquanto Radama traía seu próprio povo e vendia suas terras mais importantes, Ranavalona II convertia-se ao cristianismo, promovia uma iconoclastia em massa e extinguia as tradições religiosas do império, curvando-se em adoração ao Jesus branco e racista dos franceses.

Quando ambos foram sucedidos por Radama e Ranavalona III, tarde demais. Os franceses já tinham exalado todo seu perfume de pestilência e sabotagem nas terras malagasy, executaram cruelmente Radama e aprisionaram Ranavalona na Ilha Reunião.

A tentativa francesa de manter a autoridade europeia dominando a região fracassou retumbantemente. Em uma comoção unânime, ecoados pela onda em Memória de Ranavalona I e III, os Malagasy em suas 19 etnias uniram-se com um absoluto desejo pela liberdade. Foram 65 anos de guerras, mas a França conseguiu apenas uma colônia insubmissa e dispendiosa, com nativos unidos brigando ferozmente contra a pestilência exalando eau du parfum. Após a segunda guerra mundial, exaurida das perdas militares e civis, a França precisou encarar a primavera africana em sua mais plena floração. Reniala fez sua Ilha voltar a florescer, e em 1962, Madagasykara se torna Repoblika.

Setor final: O Hino de Manifesto

Entre ditaduras e regimes democráticos, o juramento para Ranavalona prevaleceu e o país tornou-se um espetacular exemplo de respeito e preservação étnica de diversas origens. Seu senso de igualdade e respeito às diferenças inspirou um povo lutador que protestava na terra que recebeu os malagasy de maneira injusta. A história Merina, ao toque do Olodum, propunha novos ideais no mundo. Um mundo de valorização das diferenças e respeito à cultura ancestral. Nos anos 1980, Olodum iniciou seus protestos e manifestações contra o regime do apartheid, sistema segregacionista Imposto pelos Ingleses aos Sul Africanos. Por décadas, negros sul-africanos refugiavam-se em Madagascar, fugindo de perseguições violentas e cruéis.

O canto de Madagascar ecoou. E de tanto descer a Ladeira do Pelourinho, há 30 anos passou a descer comemorando o fim do regime segregacionista. O continente negro voltou integralmente aos seus ancestrais. E da ilha do amor, o arco-íris multicor ilumina a cintilante dobra do mundo.

Sarobidy Madagasikara!

Author: Lucas Guerra

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